sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Escritor sem palavras.


Todos nós podemos escrever, o problema é a falta de atenção em cada canto ineficaz, paralisado, castigado pela falta de disponibilidade de um olhar.

Buscamos o compacto, aquilo que se parece comigo, aquilo que tem tudo haver com você e o inevitável sempre se acha na razão de acontecer, é o que chamam de falta de sorte. Pedaços de folhas rasgadas cabem histórias compactas.

Um dia acordamos bem e ao deitar desejamos que o próximo dia fosse bem melhor do que aquele que acabara de terminar.

São coisas da vida, é o conforto de quem arruma a bagunça do quarto debaixo do tapete, ou de quem não abre um minuto se quer a janela deixando o ar puro e novo consumir o cheiro velho. Ser honesto é uma virtude dos maestros da vida.

Há momentos em que não cabem muitas perguntas, mesmo quando elas insistem no bater da porta, precisamos apenas compor em novas pautas algum cantarolar, rabiscos alegres sem palavras, ainda que ela não tenha som, será uma obra, e poderá ser exposta com uma assinatura em traços fortes, porque ela terá um autor, eu ou você.

Ser menino de roupas claras com os dedinhos melados de tinta, pronto pra realizar mais um dever, no desafio de ser pintor. Arte nunca foi sinônimo de bagunça.

Se nós observarmos bem as cores do mundo, aprenderemos que substituir não é uma linguagem tão fácil assim, necessária, mas eficaz apenas quando sabemos usá-la.

Se a pintura ainda estiver fresca poderá borrar, a não ser que faça parte da técnica desde o início, como aqueles quadros que pagamos o que tiver no bolso, feito por um pintor sem sobrenome num encontro casual na praça. Um borrão pode virar lua, casinha na beira do rio, ponte sem corrimão, basta saber rabiscar na hora certa.

A sabedoria por mais copiada que seja nunca será por inteiro. Cada mão tem digital. Somos formados por nossas influencias, somos aquilo pensamos e às vezes não. As ondas da praia têm um barulho parecido, mas nunca são iguais. Tudo é sempre a mesma coisa e nada é sempre igual.

Em uma entrevista na tv, um cantor se dispunha a contar algumas curiosidades da carreira, uma delas era a arte de compor. Num clima descontraído não se prendeu em explorar suas inspirações na hora de criar e disse que não raramente se encontra improvisando e surgem lindas melodias, arranjos e quando vai tentar fazer novamente já esqueceu, quase sempre sem o gravador do lado, só resta-lhe lamentar: poxa vida, perdi um sucesso.

Essa pequena história merece uma foto não pela perda e sim pela prova de que basta remar que a beleza do mundo chega mais perto da gente.

Ainda tenho restos de folha, rasgadas pelo vento e enquanto a caneta não falhar eu posso continuar a escrever, minhas redações confusas, meus segredos desvendáveis, meus projetos inacabáveis, tanto faz eu quero apenas escrever e andar sobe as paisagens que pintei desde o dia em que respirei pela primeira vez. Ser escritor sem palavras caminhando por ai.


3 comentários:

Dimes disse...

Pow cara, não consigo deixar de copiar alguns trechos das tuas ideias e colar no meu perfil.

Belas palavras merecem destaque na minha vida por traduzirem um pouco deste meu mundo literário.
Sou um homem melhor quando desenho com palavras um pouco do que sou e pretendo ser. Tomei tanto gosto por isso, não pelos elogios, mas pela capacidade de superação e de auto- reconhecimento durante esse ofício de amor: escrever. Nas palavras nos enxergamos sem máculas justamente porque elas traduzem em nós o que olhos não alcançam.

Nas palavras a mágica da imortalidade pode ser real. Somos mágicos que desbravam o mundo com palavras. Isso é ser autêntico.

Obrigado por isso! Grande abraço!

hellenpri ; disse...

"As ondas da praia têm um barulho parecido, mas nunca são iguais. Tudo é sempre a mesma coisa e nada é sempre igual."

Muito bom André :D

Unknown disse...

"Um dia acordamos bem e ao deitar desejamos que o próximo dia fosse bem melhor do que aquele que acabara de terminar."
lindoo André :*